Menos de 10 segundos é o tempo que você precisa para entender toda a história que vou contar a seguir. Vá direto para o final do texto e leia a frase em negrito que vem logo após a palavra: RESULTADO.
Segue a história:
“Eu não consigo ser feliz”
“Eu não consigo ser feliz” era o que dizia Adriana, hoje com 35 anos. Esse pelo menos foi o discurso que trouxe ela para o consultório, após anos tentando (e falhando) controlar uma depressão que a devastava.
Aliás, esse é um discurso muito comum em pessoas com esse sintoma: não confiar em si mesma ou na própria capacidade. Uma porque já quebrou tanto a cara que hoje acha que não consegue mesmo sair dessa, e outra porque o próprio sentimento de incapacidade faz parte do rol de sintomas dentro da depressão.
Ela sentia um emaranhado de emoções que não conseguia compreender nem explicar de onde vinha. Porque alguns desses sentimentos até tinham contexto, mas muitos outros não. Ela se sentia constantemente culpada por coisas que não fez, com raiva quando nada estava chateando ela, triste mesmo quando ninguém a tinha magoado, vazia mesmo tendo uma boa vida, com pessoas que a amava. Isso estava realmente matando ela por dentro. A apatia, falta de vontade fazia parte de seu dia a dia já fazia muito tempo.
O que a maioria das pessoas não sabem é que tudo o que sentimos hoje, na verdade, são apenas o reflexo do que já existe programado dentro de nós.
Positivo ou negativo, seu comportamento e resultados na vida são o produto de uma cadeia interna muito complexa.
Depois que Adriana compreendeu como funcionaria e eu também percebi que ela tinha realmente a atitude adequada para que tudo corresse da melhor forma, realizamos o tratamento.
Entendendo o que estava por trás:
Filha de pais separados, Adriana que era cuidada apenas pela mãe, quando tinha apenas 1 ano de vida sofreu um abuso. Essa foi a situação do abuso sofrido:
Sua mãe Alzira, que criava Adriana e mais duas irmãs (6 e 8 anos), precisava trabalhar fora para manter o sustento da família. Já que nem seu pai, nem o pai das outras irmãs, enviava a pensão. Alzira não podia levar a bebê para o serviço, então dependia da boa vontade de amigos para auxiliar no cuidado das crianças.
Geralmente quem ajudava era uma vizinha, muito prestativa, desde o nascimento de Adriana. O que Alzira não sabia é que sua vizinha, às vezes, deixava as crianças com seu sobrinho de 15 anos, quando precisava fazer alguma compra para sua casa.
Em um desses dias, em que estava apenas o sobrinho da vizinha cuidando das crianças, um evento incomum aconteceu. Adriana precisava ter a fralda trocada. O sobrinho nunca tivera que fazer isso, pois nas poucas vezes que precisou ficar sozinho com a meninas, não tinha sido necessário ainda. Mas, para que Adriana não ficasse suja até a hora da tia dele voltar, ele decidiu trocar a fralda.
E aqui onde tudo começa. Dentro do tratamento Adriana traz essa cena bem forte dentro de si. O sobrinho da vizinha tirando suas fraldas, a limpando e colocando fraldas limpas. E só.
Isso mesmo. Nada mais, de fato, aconteceu. Mas o que foi internalizado foi bem diferente. Ele era alguém totalmente estranho mexendo nela. Tirando suas fraldas. Uma situação interpretada por sua mente como extremamente perigosa. Ela se sentiu invadida. Com muito medo. Realmente apavorada com o que estava acontecendo. Pois ele era um estranho mexendo nela sem sua permissão.
E isso foi o que bastou para dar início a toda uma cadeia que iria se expressar no futuro como depressão.
É aqui onde muitas pessoas podem se sentir perdidas quanto aos motivos que são a causa geradora de transtornos emocionais. Se esquecem que nossas memórias, todas elas, são a interpretação registrada daquilo que de fato aconteceu conosco.
- O fato foi: Sua mãe para poder trabalhar para criar ela e suas irmãs, deixava as filhas com a vizinha. Essa vizinha precisou sair e deixou o sobrinho cuidando delas. Enquanto estava apenas ele, o sobrinho precisou trocar a fralda de Adriana.
- O que foi interpretado e guardado como memória: minha mãe me abandonou com outra pessoa, essa pessoa me deixou com alguém desconhecido e que eu não confio. Esse desconhecido mexeu em mim sem a minha permissão, isso me deixou com muito medo e pavor. Me senti muito impotente, pois não podia fazer nada para evitar. E muito brava com minha mãe por saber que eu não podia me defender e mesmo assim me deixou com eles.
Para fixar: memória não é uma lembrança do que aconteceu com você, mas sim a lembrança de como sua mente registrou o evento naquela época.
Após entender a interpretação dada por Adriana para aquela cena, fica fácil compreender também de onde começa a vir todo aquele sentimento de raiva, medo, tristeza e incapacidade que sente na vida adulta e que, até então, não fazia sentido.
Mas não se engane, nossa mente é muito inteligente para tratar um evento isolado como regra. É necessário também haver outras situações que reforcem e ensinem que existe um padrão recorrente daquelas emoções e crenças.
Pode ser apenas mais uma ou várias situações. Só o suficiente até que a nossa mente compreenda que existe um padrão. Não existe regra para isso. A única regra é:
Nossa mente não se importa se você julga certo ou errado, ela colocará situações recorrentes no piloto automático por uma lei de economia de energia.
Existe um outro critério para essa programação:
Autopreservação.
Continue lendo a história e você vai entender como cada uma dessas leis, economia de energia e autopreservação, funciona.
Muito bem, passado essa situação do sobrinho da vizinha ter trocado suas fraldas, quando Adriana tinha 6 anos de idade sua mãe estava se relacionando com um outro homem. Ele parecia gente boa, e gostava muito de colocá-la em seu colo para brincar de cavalinho. Ela também se divertia muito com isso. Mas às vezes ela queria sair e ele a segurava contra a vontade. Isso a fazia se sentir com medo e desesperada, pois ele parecia querer outra coisa, já que não deixava ela sair dali. Por gostar da brincadeira ela sentia muita culpa, principalmente por julgar ele mal, já que ele não queria nada mais além de apenas brincar. Mas também sentia culpa por ela mesma continuar brincando daquele jeito em outros momentos, mesmo sabendo que ele a segurava contra a vontade, algumas vezes.
(Você já aprendeu que o que importa é a interpretação tirada da situação vivida)
Quando ela tinha já seus 15 anos, estava sozinha em casa com um namorado. Ele já bem mais velho, insistia diariamente para terem relações sexuais, mas ela não se sentia preparada. Ela gostava muito quando estavam namorando e sentia muito prazer com as passadas de mão, mas sempre na hora H ela queria parar. Até que um dia ele não parou e terminou forçando a relação sexual sem sua permissão. Ela gostava muito desse namorado e muitos pensamentos e sentimentos coexistiam dentro dela:
De que ele não devia ter feito isso. De que transar era normal. Mas não contra sua vontade. Mas ela gostava dele. Mas como ela permitia que ele tivesse feito isso com ela e ainda continuavam juntos. De que entendia a vontade que ele tinha. Mas sentia raiva de si mesma por não ter denunciado sua ação. De que também tinha sentido prazer na hora do sexo, mas que não deveria já que foi contra sua vontade.
Ou seja, uma confusão total dentro de sua cabeça. E novamente um bombardeio de emoções como raiva, culpa, medo e impotência. E tudo isso fervia dentro dela todos os dias.
Entenda, nossa mente mais profunda é amoral, atemporal e caótica.
Amoral, pois ela não julga certo e errado. A regra básica é:
Se se repete, deve ser automatizado. Eu sou o que aprendi a ser e a sentir sobre mim.
Atemporal, pois não existe ontem, hoje ou amanhã dentro dessa mente. É tudo agora. Você se lembra de algo impactante e sente como se fosse hoje. Todas as nossas versões anteriores estão vivas e agindo dentro de nós nesse exato momento.
Somos o conjunto de tudo o que já fomos.
Caótica, pois todas as experiências se correlacionam e influenciam umas às outras de maneira ilógica (para a mente consciente).
Tudo existe e se influencia ao mesmo tempo seguindo uma lógica própria.
Quando Adriana já estava com seus 22 anos, ao final da faculdade, sua mãe morre. Ela se sente desprotegida, culpada por não ter dado o valor devido a sua mãe, muito brava consigo mesma por ter demorado tanto tempo para perceber que sua mãe não era a responsável por todo o sofrimento que ela própria sentiu durante a vida.
Nesse momento, após a sequência de eventos mencionados, sua mente dá um estralo e conclui: Sou culpada das coisas que acontecem comigo, Sou alguém que deve carregar uma raiva muito grande por aqueles que me machucaram e por mim mesma por permitir que fizessem isso a mim, Sou alguém que tem medo que isso continue acontecendo sempre e sempre.
Pela lei da automatização a mente de Adriana executa uma autopunição diária sentindo-se triste e brava consigo mesma, para que a culpa seja uma constante em sua vida. Já que é isso o que ela é lá dentro: uma pessoa triste, onde os outros se aproveitam e a abandonam; que sente raiva deles por fazerem isso e de si mesma por permitir (de acordo com a conclusão chegada por sua própria mente). Ela também aprendeu com isso que não é possível ser feliz, que se existe alguém feliz, ela não consegue, ser feliz não é para ela. Pois é impotente diante dos desafios da vida. E que homens são perigosos.
Pela lei da autopreservação Adriana agora passa a se afastar de qualquer situação que traga a chance de ser abusada. Qualquer relacionamento com outros homens, perde interesse sexual, a vontade de sair, de trabalhar, de cuidar de si mesma e passa a engordar, mesmo sem comer muito.
E para que essa automatização e autopreservação se torne possível sua mente desenvolve uma estratégia chamada depressão.
Observe que as situações não precisam ser da mesma natureza, aliás raramente serão. Abuso sexual e morte de um ente querido não possui relação direta. Elas fazem sentido quando compreendemos a lógica emocional usada pelo subconsciente. Por isso bullying prejudica um e outro não; a morte de alguém querido fere mais uma pessoa do que outra; ser despedido de um emprego é natural para um e catastrófico para outro. Pois o que importa é a cadeia emocional sendo construída.
Com 35 anos e com depressão desde os 22, Adriana já tentou quase de tudo (ela diz que já tentou de tudo). Mas foi apenas quase tudo. Pois ela, assim como muitas pessoas, achava que a depressão era o verdadeiro problema. Fazia de tudo para se animar. Repetia para si mesma que era bonita, que podia ser feliz, que era corajosa, mas lá no fundo algo parecia que gritava mais alto dizendo que ela estava apenas mentindo para si mesma. E pior, que no fundo, a única solução mesmo parecia ser a morte.
Mas ela ainda tentava, e o que diziam para ela fazer ela fazia. Mas nem tudo. Já que estava tão frustrada patinando no mesmo lugar, que o que ela mais queria era não sofrer mais. Então partia apenas para aquilo que ela acha mais fácil de fazer para resolver.
Ela nem imagina que isso era exatamente sua própria mente a mantendo na depressão.
Já que não tem jeito fácil para resolver esse problema.
RESULTADO: A pessoa estava com Depressão, buscava todos os meios milagrosos possíveis, mas sem sucesso, sofria com isso por anos.
Sabe por que ela não conseguia resolver de verdade e apenas arrumava desculpas para sua dor? Porque assim como você, que veio direto para essa frase em negrito, essa pessoa com depressão queria atalhos. Agora se você quer entender de verdade o motivo dela não ter conseguido resolver a depressão, volte e leia a história completa, depois continue lendo desse ponto.
Se você não veio direto para o fim, como eu instrui, parabéns! Você é diferente da maioria.
Porque este é um exemplo comum das pessoas que tendem a querer achar milagre para resolver problemas complexos. E é onde outras pessoas aproveitadoras ganham lugar ao sol, oferecendo fórmulas mágicas para resolver essas dores. Você pode perceber no texto que coisas que parecem insignificantes aos olhos do Consciente, tem um significado muito importante dentro da cadeia que gerou o sintoma.
É possível acelerar tratamentos emocionais, mas não existe mágica.
É preciso fazer a coisa certa, do jeito certo.
O problema é apenas um sintoma, se focar apenas nele vai chegar uma hora que vai se setnir perdida, se perguntando o motivo de não conseguir sair do sofrimento.
Como Adriana que justificava ser depressiva apenas porque sua mãe morreu, mas que não faz sentido, já que se fosse assim, todo mundo que perdeu a mãe também deveria ter ficado com depressão.
A solução é simples.
Descobrir e refazer a cadeia de eventos que ensinaram para a mente que a depressão era uma boa saída. Simples, mas não fácil. Simples e diariamente possível, pois eu vivo isso na minha profissão. Não fácil, pois exige disposição para rever, lidar e dar um novo entendimento para cada evento doloroso do passado que levou ao sintoma.
No caso que contei acima, após a descoberta de cada evento existe um trabalho de dar novos significados e entendimentos para as cenas antigas. Utilizar a inteligência de hoje, que não existia naquela época.
Essa é uma história que reflete todo e qualquer sintoma que você apresente como questionamento. Fobia, insônia, ansiedade, pânico, alergias, quedas de cabelo repentinas, “dedo podre” em relacionamentos, e muitos outros.
Não olhe para o problema como o verdadeiro problema, pois ele não é.
Ele é apenas o sintoma. A maneira como sua mente encontrou para expressar um aprendizado.
Olhe para seu problema e se pergunte: O que pode estar por trás disso? Quais as experiências que me trouxeram até aqui, nesse momento? Esse é o foco. É por aí que resolverá de verdade o que te incomoda hoje.