O Mundo Está Rápido Demais ou Eu Que Não Consigo Acompanhar?

Abri a porta devagar, sentindo o peso do dia inteiro nas costas.

— Desculpa o atraso — murmurei, jogando a bolsa no chão e caindo no sofá do consultório de Italys.

Ele olhou para mim sem pressa, como se estivesse esperando que eu completasse a frase.

Mas eu não tinha muito mais o que dizer. Só cansaço.

— Você está bem? — ele perguntou.

Dei uma risada curta.

— Eu nem sei mais o que é “bem”.

Ele cruzou as pernas, mantendo a postura calma.

— O que você sente agora?

Fechei os olhos por um instante, tentando encontrar as palavras certas.

— Minha cabeça não para. É como se eu estivesse sempre correndo, sempre tentando acompanhar alguma coisa que nunca alcanço.

— Como se estivesse ficando para trás?

Assenti.

— Sim. Mas o pior é que eu nem sei atrás do quê.

Ele respirou fundo antes de responder:

— Eu acho que você acabou de descrever o que muitas pessoas sentem hoje em dia.

— O que você quer dizer? — perguntei, sentindo um nó na garganta.

Ele se inclinou um pouco para frente.

— Você já percebeu como o mundo mudou nos últimos anos? Antes, as mudanças aconteciam em um ritmo natural. Agora, tudo é instantâneo. Mensagens, notícias, decisões. Seu cérebro ainda opera como se estivesse no passado, tentando se adaptar a essa realidade frenética.

Apertei as têmporas com os dedos.

— Então é por isso que eu me sinto exausta o tempo todo?

— Em grande parte, sim. O mundo moderno fez com que nosso cérebro vivesse em estado de alerta constante. Quanto mais rápido tudo acontece, mais sentimos que estamos atrasados. Isso gera ansiedade, porque acreditamos que deveríamos estar no controle.

Dei uma risada amarga.

— Mas eu não estou no controle.

— E nunca esteve.

Fiquei em silêncio.

Ele continuou:

— A sensação de que você precisa estar sempre atualizada, sempre produtiva, sempre conectada… isso não é um problema seu. É um reflexo do ambiente em que vivemos.

Baixei o olhar para minhas mãos.

— Mas mesmo quando eu estou sem fazer nada, minha cabeça continua acelerada.

Ele assentiu.

— Seu cérebro não sabe mais descansar. Ele foi treinado para estar sempre processando alguma coisa. E com tanto excesso de estímulos, ele simplesmente não consegue desligar.

Fiquei um momento absorvendo aquilo.

Então soltei um suspiro longo.

— Eu só queria sentir… paz.

Ele me observou por um instante antes de perguntar:

— Você lembra a última vez que ficou em silêncio, sem pegar o celular, sem tentar resolver nada, sem se preocupar com o que vem depois?

Tentei lembrar.

Não consegui.

Minha garganta apertou.

— Acho que não.

— Porque, de alguma forma, você aprendeu que o silêncio é desconfortável.

Engoli seco.

— Sim. Parece que se eu parar… vou estar perdendo alguma coisa.

— O mundo moderno te ensinou que o descanso é uma fraqueza. Que se você não está sempre produzindo, sempre aprendendo, sempre melhorando, está ficando para trás.

Baixei o olhar.

— Mas eu estou cansada.

Ele assentiu lentamente.

— Porque o descanso virou culpa.

Meus olhos começaram a arder.

A ficha caiu com um peso absurdo.

Eu não precisava estar sempre correndo. Eu não precisava provar nada para ninguém.

Mas, por algum motivo, meu cérebro não sabia mais viver de outra forma.

Passei as mãos pelo rosto, tentando respirar melhor.

— Então, o que eu faço agora?

Italys sorriu de leve.

— Você começa a reprogramar sua relação com o tempo.

— Como assim?

— O mundo não vai desacelerar. Mas você pode aprender a criar um espaço interno de calma e clareza. Isso envolve treinar sua mente para não reagir automaticamente a cada estímulo, para não se sentir obrigada a estar sempre em movimento.

Respirei fundo.

— E como eu faço isso?

— Devagar. Com pequenas mudanças. Perceber o que te acelera. Aprender a diferenciar o que é prioridade do que é ruído. E, principalmente, reconstruir sua relação com o silêncio.

Fechei os olhos por um instante.

Silêncio.

Algo que eu evitava. Algo que eu temia.

Mas talvez… fosse exatamente o que eu precisava.

E você? Está tentando acompanhar o ritmo acelerado do mundo ou está se permitindo criar seu próprio tempo?

Se essa história fez sentido para você, talvez seja hora de desacelerar e reencontrar sua paz.

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